Aos cinco anos, Lama Michel foi reconhecido pelo seu mestre como a reencarnação de uma linhagem de lamas tibetanos. Aos 12, por decisão própria, decidiu que queria ser monge e foi estudar a filosofia budista tibetana no Monastério de Sera Me, na Índia. Hoje, aos 26, Lama Michel viaja pelo mundo ministrando palestras, oferecendo ensinamentos e difundindo conhecimentos sobre o Budismo.
Autor dos livros Uma Jovem Idéia de Paz e Coragem para seguir em frente, o jovem monge apresentou a palestra “Relaxamento e Concentração – Uma Jovem Idéia de Paz” na unidade Lapa do Cursinho da Poli, no dia 10 de abril. Marcada pelo seu bom humor, a palestra permitiu aos alunos que conhecessem um pouco da filosofia budista, técnicas de relaxamento (que podem ser muito úteis na hora do vestibular!) e sua visão sobre os acontecimentos no Tibet.
É possível conhecer mais sobre Lama Michel no site www.centrodedharma.com.br e na entrevista que ele concedeu à TV Trip: http://revistatrip.uol.com.br/tvtrip/video.php?i=147
Muitos jovens aqui no Cursinho têm dificuldade em escolher profissões e você, aos 12 anos, já sabia que queria ser um monge. O que o levou a tomar uma decisão tão importante?
Quando eu fiz essa escolha, eu não tive dúvida nenhuma. Ela não veio de um dia para o outro, foi amadurecendo. Eu tomei como exemplo pessoas que eu conhecia e que tinham o que a gente chama de sucesso, mas não estavam felizes, estavam sempre reclamando de alguma coisa. Depois, eu comecei a observar meu mestre: Lama Gangchen é sempre feliz, contente, sorridente, satisfeito. Então ele virou meu modelo, era o exemplo do que eu queria alcançar.
Por que tantas pessoas são infelizes, mesmo quando alcançam status social ou têm um bom emprego etc.?
E como evitar esse problema tão comum na atual sociedade?
O problema acontece quando os bens materiais e os prazeres sensoriais viram, em si, um objetivo. Recebemos uma educação baseada no materialismo, o próprio sistema de publicidade se baseia nisso e, desde pequenos, projetamos a nossa felicidade naquilo que não podemos sustentar. A primeira coisa a fazer é ter consciência da situação na qual eu realmente me encontro. Os bens materiais são um meio para sobreviver, mas o objetivo de vida vai um pouco além disso: o simples fato de viver bem, baseado não no desenvolvimento material externo, mas no desenvolvimento interior.
Muitos estudantes se preparam o ano inteiro para os vestibulares, porém, na hora da prova, esquecem tudo. Há alguma técnica de relaxamento para evitar esse “branco”?
Com uma boa concentração, a mente tem clareza. Enquanto o aluno estiver no exame, não pode ficar pensando “nossa, e se eu não passar, vou ter jogado fora dois anos da minha vida? Meu pai vai ficar bravo, nunca vou conseguir um bom trabalho...” Temos mil preocupações que vão se atropelando na cabeça, enquanto se está lá, na frente das perguntas. É claro que tem toda uma pressão da família, da sociedade, mas o estudante não pode simplesmente se deixar levar por tudo isso e sentir-se responsável pelas expectativas que as outras pessoas criam sobre ele. Só ele sabe o esforço que dedicou. Então ele precisa esvaziar um pouco a mente de tudo isso e se concentrar no que é necessário, ou seja, direcionar a mente para o que é preciso e não se deixar levar por todas as preocupações que vêm juntas. Isso já é um grande passo.
Com as Olimpíadas, a China está em foco na grande mídia, e as atenções se voltaram para a situação em que se encontra o Tibet, sob controle dos chineses. Qual é sua opinião sobre esses fatos?
Para poder ilustrar bem a situação do Tibet, a gente vai ter que acabar entrando nas políticas da China e dos Estados Unidos, porque sabemos que nenhum país toma uma posição sem se beneficiar de algum modo. Os EUA são a favor do Tibet e fazem uma oposição aos chineses desde 1947, mas não porque eles são bonzinhos ou gostem do Dalai Lama. O próprio Dalai Lama já abandonou há muitos anos o conceito de liberdade para o Tibet, e as manifestações criam mais dificuldade no trabalho de diálogo com a China, que é um país muito orgulhoso. As manifestações acabam fazendo o jogo dos Estados Unidos e de outros países.
No ano passado, vimos os monges de Mianmar protestarem contra a ditadura instalada no país. Qual é o envolvimento dos monges na política dos países asiáticos?
São situações diferentes. Em Mianmar, foram monges que estavam muito insatisfeitos e representaram a voz do povo, que não podia se manifestar. Pelo fato de toda a população ter um grande respeito pelos monges, eles foram levar essa voz. No Tibet, política e religião estão misturadas há centenas de anos e isso muda muita coisa. Outra diferença é que os monges da Birmânia [antigo nome de Mianmar] têm um grande respeito da própria polícia. No Tibet não tem isso, porque os policiais chineses não estão nem aí para os monges.
Veja como foi a palestra de Lama Michel no Cursinho da Poli.
*As informações contidas nas respostas do entrevistado não traduzem necessariamente a opinião do Vox. topoAv. Ermano Marchetti, 576 (Lapa), R. São Benedito, 245 (Sto. Amaro), R. Sabbado D’Angelo, 2040 (Itaquera) – São Paulo (SP) – Telefone : (11) 2145-7654
Redação: Leonardo Vinícius Jorge - Design: Brasil Multimídia
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