Como almejar um ambiente de paz, se os jovens de baixa renda não têm direito nem a ter direitos? Afinal, além da educação básica e superior, é necessário, também, viabilizar seu acesso ao mercado de trabalho, não só para que garantam seu sustento, mas para que possam desenvolver habilidades e responsabilidades, adquirir experiência e participar da vida social como cidadãos. Mas a contundente divisão de classes ainda é um dos grandes problemas a superar para construirmos um país socialmente mais justo.
“Infelizmente, a juventude no Brasil sofre por problemas relativos à divisão em classes sociais. Os jovens de baixa renda moram em regiões onde é mais difícil o acesso à educação, o que torna a trajetória para a ascensão social uma barreira, muitas vezes, intransponível”, explica Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), uma fundação pública federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Para Pochmann, é evidente a defasagem no número de oportunidades para os jovens da periferia, o que acaba gerando um ciclo vicioso: o jovem não consegue emprego por não ter experiência e não tem experiência porque nunca trabalhou. “Parte do problema está diretamente associada ao fato de o Brasil ter passado duas décadas sem crescimento econômico. Assim, tal ciclo vicioso se deu justamente porque o país não gerava empregos. Na medida em que a economia volta a crescer, mais oportunidades são oferecidas aos jovens brasileiros, mas é importante considerar, no entanto, que o crescimento econômico não é suficiente, tendo em vista que as exigências são crescentes – o que implicaria em maior quantidade de recursos e políticas públicas”.
O presidente do Ipea lembra, ainda, que os obstáculos enfrentados pelos jovens das periferias podem ser superados também pela persistência individual, e não só pela interferência de políticas públicas. Gerson Alberto Rozo Guimarães, advogado especializado em Direito do Consumidor, Direito Ambiental e Processos Coletivos, assessor jurídico da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), concorda e explica que o jovem precisa tomar conhecimento dos mecanismos que fazem funcionar a sociedade na qual está inserido.
Aprender a ler criticamente o mundo em que vive, construir redes de solidariedade social ativa entre as pessoas da família, do bairro e da região, e organizar associações culturais e esportivas são algumas das formas com que o jovem pode contribuir para a mudança de seu ambiente. Gerson Alberto fala também do quanto o envolvimento ativo é importante: é preciso entender e usar os canais político-institucionais, criar contatos com vereadores, deputados, associações, veículos de comunicação e conhecer os programas e ações do governo federal, do estado e da prefeitura de sua cidade.
Bandeiras de luta e participação nas mobilizações levadas a cabo por movimentos sociais que buscam o “direito a ter direito” também são ações defendidas por Arildo Mota Lopes, presidente da Unisol Brasil, uma associação civil sem fins lucrativos que busca a melhoria das condições de vida e de trabalho para construção de uma sociedade mais equilibrada. “É importante destacar que houve conquistas em nosso país porque houve processos históricos de transformações sociais. Exemplo disso é a nossa juventude, que esteve presente na luta pelas ‘Diretas Já!’, em defesa da abertura política e das liberdades democráticas”, relembra Arildo.
O presidente da Unisol cita os programas sociais voltados para os jovens no atual governo federal, como o Consórcio da Juventude e o ProUni (Programa Universidade para Todos), como importantes instrumentos de organização de políticas públicas, devolvendo aos jovens o direito a ter direitos. E mantém o otimismo: “Sabemos que há muito a ser feito, mas o primeiro passo já foi dado. E a cada dia temos construído um Brasil mais justo e solidário”.
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Redação: Leonardo Vinícius Jorge - Design: Brasil Multimídia
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