Juntamente com Rússia, Índia e China, o Brasil pertence ao chamado Bric, o grupo de países emergentes da atual economia mundial. Outros feitos também têm colocado nosso país em posição de destaque no cenário internacional, como a histórica eliminação da dívida externa e o pioneirismo na produção de biocombustível. Porém, a enorme diferença na distribuição de renda que gera um abismo entre as classes mais ricas e as mais pobres ainda é o grande problema a ser superado.
Desemprego, sistema educacional defasado, falta de acesso à produção cultural e desestruturação familiar são fatores que criam um ciclo vicioso, alimentando um processo de causas e conseqüências geradoras de uma baixa qualidade de vida. Diante disso, como enxergar perspectivas de paz e alternativas de futuro para os jovens?
Um dos pilares de um ambiente de bom convívio é, sem dúvida, a família. Valores morais e religiosos, por exemplo, são heranças importantes para a formação do indivíduo e da sociedade. Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança – uma organização comunitária na qual o trabalho voluntário realiza ações preventivas de saúde, de educação e de nutrição –, deixa clara a importância do núcleo familiar: “A família é a célula básica da sociedade. Temos de investir nela, principalmente nas mães, para prevenir problemas com crianças e adolescentes. A família pode ser a maior fonte de agravos ou ponte para a solução dos problemas”.
Mas é evidente que a busca por um bom ambiente de convívio envolve também ações mais abrangentes, como um sistema escolar inclusivo e de boa qualidade, oportunidades de preparação profissional do jovem e maior número de postos de trabalho. Portanto, políticas públicas são necessárias para intervir na atual situação e auxiliar na luta pela inclusão da juventude de baixa renda nos setores ativos da sociedade.
Apesar de reconhecer a importância de programas de transferência de renda, a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), integrante da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, acredita que ousadia e criatividade são peças-chave na busca pelo desenvolvimento cultural e social da juventude e sugere um alcance maior de ações realizadas por algumas ongs. Diz ela: “o que defendo é que sejamos capazes de oferecer a esses jovens oportunidades para que possam ter acesso, por exemplo, a cursos de capacitação, tais como computação, estilismo, artes, design gráfico, teatro, dança, entre tantos outros”.
Além de cursos profissionalizantes, que habilitam e preparam o jovem de baixa renda para o mercado de trabalho, a educação escolar é vital para sua formação cidadã e este é, provavelmente, o principal problema a ser superado. Se as instâncias federais, estaduais e municipais ainda pecam por não melhorar o ensino público, a sociedade vem procurando meios de corrigir esse erro e um belo exemplo é o Cursinho Pré-vestibular Alavanca, situado na favela São Remo, Zona Oeste da capital paulista.
Quando concluía seu mestrado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade na Universidade de São Paulo, a jovem alemã Daniela Matterne se deparou com uma triste realidade: crianças catando latas de alumínio para conseguir comida. Inconformada com tal situação, Daniela conseguiu apoio financeiro de algumas empresas e, junto com o dinheiro da bolsa de estudos que recebia do governo alemão, construiu um prédio de três andares nas entranhas da favela, que fica ao lado da USP, e criou o Cursinho Alavanca, que tem como missão suprir as deficiências escolares dos moradores da comunidade.
São os próprios alunos que ajudam na organização da ong, cuidando da parte administrativa, da biblioteca e dos eventos. “Isso levou o projeto a uma autosustentabilidade, uma autosuficiência, e cada vez mais envolve o pessoal da comunidade”, diz Daniela, com seu forte sotaque alemão.
Outro bom exemplo de como é possível criar alternativas para o falho sistema educacional público é o programa Cidade Escola Aprendiz, criado pelo jornalista Gilberto Dimenstein. Indicado pela Unesco como referência mundial de inclusão social pela educação, o projeto consiste em ações comunitárias que visam à melhoria da estrutura de algumas escolas, trazendo a sociedade como agente ativo no cuidado com as instituições educativas.
“Acredito que a educação está envolvida em três esferas: a família, a comunidade e a escola. O projeto Cidade Escola Aprendiz tenta articular esses três setores, tenta criar redes e trazer educação, lazer e cultura junto à sociedade”, conta Dimenstein, com sua característica visão otimista.
Enfim, é preciso ter em mente que a busca por um ambiente de paz – que é a busca por um ambiente de bom convívio social – é responsabilidade de todos nós. Além do setor político, cabe à sociedade criar ações que proporcionem a melhoria e o convívio entre todos.
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Redação: Leonardo Vinícius Jorge - Design: Brasil Multimídia
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