Os investimentos em ensino básico público, no Brasil, são satisfatórios?

Definitivamente não. Entendo o ensino básico, que começa na pré-escola e vai até o Fundamental, como o período mais importante da educação de uma pessoa. É a chamada fase de letramento e alfabetização. As principais defasagens e insuficiências de aprendizagem se dão nessa fase, e acompanham o aluno por toda sua trajetória escolar.  Sabemos que o Brasil, hoje, investe muito pouco na educação de base. Isso justifica, inclusive, as reivindicações de aumento dos atuais 5,7% do PIB (Produto Interno Bruto) para cerca de 10% do PIB em investimentos na educação. É o que buscamos com o Plano Nacional de Educação (PNE) – documento que estabelece 20 metas para a educação brasileira na próxima década.

Qual é sua opinião com respeito aos professores do estado e ao ensino ofertado?

Já avançamos muito com respeito à educação, mas há um longo caminho pela frente. Esse caminho passa, sem dúvida, pela valorização do professor, que necessita de uma remuneração mais digna para se aperfeiçoar, ter uma vida cultural mais ampla, comprar seus livros, ir ao cinema… O recente estabelecimento de um piso nacional – R$ 1.458 – é um estágio importante, e agora é essencial que todos os estados o cumpram. É importante defender o professor. A perspectiva salarial da profissão não faz frente às despesas básicas de um profissional, muito menos dá acesso à bagagem cultural que ele precisaria oferecer dentro da sala de aula.

Cite algum exemplo de ensino público de qualidade.

É impossível falar em ensino público de qualidade sem pensar nos Centros Educacionais Unificados (CEU) que, nos últimos anos, beneficiaram milhares de crianças e adolescentes da cidade de São Paulo, permitindo livre acesso à educação, lazer, cultura, tecnologia e práticas esportivas em comunitárias afastadas da região central. Sem dúvida, para alcançarmos uma educação de qualidade, é fundamental integrarmos a escola como um instrumento da comunidade, um espaço de todos para a construção do conhecimento e da cidadania. O exemplo que mais se aproxima desse ideal é o CEU.

O que os CEUs possuem de tão especial que os torna uma referência para você?

As unidades contam com Centro de Educação Infantil, Escola Municipal de Educação Infantil e Escola Municipal de Ensino Fundamental, que também oferece Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, são equipadas com quadra poliesportiva, teatro, cinema, piscinas, playground, telecentro, biblioteca e espaços para oficinas, ateliês e reuniões. E mais: ficam abertos nos fins de semana para beneficiar tanto as crianças e adolescentes como toda a comunidade do entorno. Precisamos, mais do que nunca, da valorização das atividades extraclasse e da ampliação das formas de saber, com o envolvimento e a participação de todos. É necessário desenvolver integralmente as crianças e os jovens, também desenvolvendo a comunidade onde moram e, sobretudo, ampliando os horizontes das experiências educacionais. O CEU tem essa proposta, precisamos avançar nesse sentido.

Como andam o Ensino Superior nos últimos anos e as perspectivas do jovem de fazer uma faculdade?

Em 2010, houve um crescimento de 7,1% no número de matrículas no Ensino Superior em relação ao ano anterior. De2001 a2010, o número de brasileiros que concluíram o Ensino Superior praticamente triplicou, o que representa um crescimento de 110% no que se refere ao ingresso de pessoas ao Ensino Superior. Esse aumento é resultado do Plano Nacional de Educação 2001/10, que estabelecia diretrizes para o aumento da oferta de vagas no país.

Entre outros fatores, esse crescimento se deve ao aumento do número de financiamentos estudantis com bolsas e subsídios por meio de programas como FIES e ProUni, ao aumento da oferta de vagas na rede federal, à abertura de novos campi e novas IES, à interiorização de universidades já existentes, à criação de cursos de menor duração (tecnólogos) e ao aumento da rede de ensino a distância. Isso tudo representa um grande avanço para a Educação, que só tem a ganhar com a democratização do acesso dos brasileiros a um Ensino Superior de qualidade.

Quais são as principais características e diferenciais do Cursinho da Poli quando o assunto é aprovação de alunos do estado em grandes universidades?

Atualmente, o Cursinho da Poli conta com cerca de 8 mil alunos, sendo que 71% são egressos de escolas públicas. Oferecemos a esses alunos um leque de conhecimentos que, somado ao alto nível de qualificação de nossos professores, permite ao aluno do Cursinho encontrar subsídios para ampliar e construir o saber. O professor tem um grande papel como orientador. Além disso, nosso grande diferencial é que valorizamos e investimos em atividades extraclasse. Queremos oferecer aos alunos uma visão humanística e filosófica que, na maioria das vezes, não é trabalhada no ensino público. Saraus, passeios, debates sobre temas atuais e outras atividades fazem parte do nosso cotidiano.

Fale um pouco sobre a história do Cursinho da Poli.

O Cursinho da Poli é um projeto educacional sem fins lucrativos que já atendeu mais de 100 mil pessoas na cidade de São Paulo. No próximo ano completará 25 anos. Fundado por um grupo de estudantes de engenharia da Escola Politécnica da USP, em 1996 deixou o campus universitário e deu início a um processo de expansão que resultou na criação de uma rede de três unidades na cidade de São Paulo, nos bairros da Lapa, Santo Amaro e Itaquera.

Prof. Giba Alvarez é engenheiro Metalurgista e de Materiais formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Ainda na faculdade, optou pela carreira de professor, e atualmente é autor do material de Física e diretor do Cursinho da Poli, instituição que completa 25 anos em 2012 e que já atendeu mais de 100 mil pessoas com o objetivo de dar aos jovens, principalmente aqueles provenientes da escola pública, a oportunidade de entrar no Ensino Superior em instituições públicas, gratuitas e de qualidade.



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