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POR MEIO DE CONVÊNIOS, O CURSINHO GARANTE VAGAS PARA ÍNDIOS, QUILOMBOLAS, SEMTERRA, DETENTOS, MENORES EM SITUAÇÃO DE RISCO, ENFIM, OS GRUPOS EXCLUÍDOS DA SOCIEDADE.

O Brasil é o dono da 73ª colocação no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Perde para países bem mais pobres. Isso significa que enquanto poucos vivem como europeus, uma grande parcela da população faz malabarismos para sobreviver.


Como típico país subdesenvolvido, essa situação de desigualdade tem um agravante, a ausência do Estado para garantir um mínimo de direitos ao cidadão. Alguns grupos, por razões étnicas ou sociais, sofrem ainda mais que o restante da população. Negros, indígenas, os sem-terra, detentos e tantos outros formam grupos sociais ainda mais privadas de direitos.
Se é pra incluir, esses devem ser os primeiros da fila. Foi em 2000, com a ampliação para 8 mil vagas, que o Cursinho da
Poli conseguiu estrutura para atender algumas dessas minorias.

Para isso, o Cursinho foi conversar com movimentos sociais que representam e organizam esses grupos. O trabalho começou com a Funap (Fundação de Amparo ao Preso). “Nosso trabalho é voltado para recriar os vínculos entre os presos e a sociedade”, explica José Antônio Gonçalves, supervisor de educação da entidade.
No primeiro ano foram 18 alunos participantes do convênio. Atualmente, são 30 detentos em regime semi-aberto ou egressos – prisioneiros recém libertados – que freqüentam as aulas. “Nos três anos de convênio, não houve nenhum problema. Eles sabem que o sucesso e a continuação da parceria depende deles e tudo o que querem é poder se reintegrar à sociedade”, destaca Gonçalves.

Os alunos que vêm do convênio não são separados de nenhum modo e assistem às aulas como os outros. Isso foi quase uma exigência de ambas as entidades. “Separá-los seria criar novos estigmas e o objetivo da parceria é integrar, não segregar”, orgulha-se o Gonçalves.
Na mesma linha de recriação de vínculos, está a parceria com a Febem de Pirituba. Após dois anos de tentativas e conversas, o
convênio foi firmado em agosto de 2002 como um piloto para o ano seguinte.

Para ele, parcerias como esta completam a função da instituição, que é de reeducar aqueles jovens para reintegrá-los. Masella conta que a rotina dos adolescentes passa a ser toda voltada para o estudo. “Eles têm a manhã para estudar, à tarde vão para o Cursinho e à noite trabalham para garantir o sustento”, descreve. O cuidado em não rotulá-los é o mesmo tomado com os alunos vindos da Funap. “Para o próximo ano, vamos aumentar o número de pessoas cursando, não só na unidade de Pirituba, mas em outras unidades”, acredita.

Para completar, o Cursinho tem um convênio desde 2001 com a Ong Camará, que trabalha com cerca de 100 adolescentes e jovens em situação de risco na cidade de São Vicente. “São jovens que têm pouquíssimas oportunidades”, explica João Carlos da Franca, coordenador geral da Ong. “A parceria com o Cursinho é uma forma de ajudar os jovens que querem fazer um curso superior”, completa.
  “Temos muito orgulho
da parceria, porque o
objetivo deles é claro:
permitir que os adolescentes
tenham novas perspectivas para poder esquecer a vida
anterior”, aponta Marcio Alexandre Masella, coordenador pedagógico da Febem de Pirituba.

Como a entidade é sediada em São Vicente, o deslocamento é um obstáculo. Para conseguir o transporte, a Ong teve de contar com o apoio do município. “Por conta da necessidade, tivemos de escrever e aprovar um projeto de lei na cidade para que a prefeitura pudesse dar transporte para esse tipo de projeto”, lembra João Carlos. Ainda assim, a limitação permanece, já que apenas conseguem garantir a ida de 17 jovens para assistir às aulas aos sábados. E o convênio não mexeu só com os jovens que já estão no Cursinho. “Os que ainda não completaram o Ensino Médio começam a fazer planos para quando estiverem lá, porque,
para eles, ter essa oportunidade acaba incentivando o estudo e até a busca de cultura em cinemas e teatros”, narra João Carlos.

Convênio com MST

“Os que ainda não completaram o Ensino Médio começam a fazer
planos para quando estiverem lá, porque para eles ter essa oportunidade acaba incentivando o estudo e até a busca de cultura em cinemas e teatros”, narra João Carlos, da Ong Camará.

Um dos principais movimentos sociais do país – considerado por alguns a principal novidade em termos de organização popular no mundo todo – o Movimento dos Sem-Terra está também entre os parceiros do Cursinho. Apesar de estar longe de resolver o problema, a modesta reforma agrária promovida no país produz outros problemas. Um deles é o fato de os assentados não terem acesso nem à tecnologia nem aos conhecimentos técnicos necessários para uma produção capaz de sobreviver à concorrência dos grandes produtores.

O movimento tem convênios com universidades e centros de formação de dentro e fora do país, para capacitar os assentados. A parceria com o Cursinho da Poli veio para ampliar, com o tempo, esse objetivo do movimento.
“Ainda estamos com dificuldades de transporte, porque o assentamento fica distante da cidade”, lamenta Josenilton Xavier do Amaral, um dos líderes do movimento. “Por isso, a saída está sendo aproveitar parentes de assentados morando em São Paulo e as vagas no final de semana. Estamos divulgando o convênio em todo o Estado e as pessoas já estão se articulando para fazer a seleção, porque a demanda é bem grande”, descreve.

Josenilton conta que no assentamento eles não precisam apenas de técnicos em agricultura.
“Precisamos de gente de todas as áreas, engenheiros ambientais, de agrônomos e veterinários e também professores. Depois de formados, eles poderão voltar para colaborar com o movimento, voltar a suas origens e ajudar a desenvolver as regiões pobres e afastadas”, sustenta.

Etnias

O Cursinho não se ocupa em incluir apenas um grupo marginalizado. Índios e negros também sofrem com a discriminação. Indígenas originados de Pernambuco, os Pankararu migraram para São Paulo em 1955 – acompanhando o fluxo migratório que se estenderia até a década de 70 –, em busca de trabalho nas indústrias da região. Se você já está imaginando uma aldeia no meio da cidade, saiba que infelizmente não é bem assim.

Quase a metade das 350 famílias descendentes daqueles pioneiros vivem na favela Real Parque, no bairro do Morumbi, enquanto garante Frederico de Barros Pankararu, diretor da SOS Comunidade Indígena Pankararu. “ Os parentes que vão para a universidade podem depois orientar a comunidade a seguir por um caminho melhor”, explica Frederico. A parceria começou há dois anos com 28 alunos, dos quais 22 estão fazendo PUC com Não é à toa que o curso mais procurado pelos indígenas é o de pedagogia. Frederico explica: “entre 70% e 80% dos parentes são analfabetos. E normalmente o Pankararu fica tímido quando um não-índio dá aula, o que não acontece se os outros parentes estiverem ensinando”.

Mas nem sempre é possível criar todas as condições para to os demais estão espalhados em outras favelas da Grande São Paulo.
“A comunidade só tem a ganhar com essa parceria”, bolsa cedida pela universidade.
“O Cursinho da Poli foi o único a entender nossa dor e dar abertura para nos entender”, elogia. que um convênio firmado seja levado adiante.
Um exemplo é a parceria coma Associação Quilombo de Ivaporunduva. Quilombolas – ou remanescentes de quilombos – são os descendentes dos escravos negros que se agrupavam em quilombos para sobreviver à perseguição dos brancos. Eles mantém alguns dos costumes e vivem nos mesmos locais onde seus antepassados se instalaram.
O convênio foi firmado em 2001, porque era interessante para as duas entidades, mas vagas disponibilizadas não puderam ainda ser aproveitadas.
“Como nós estamos na região do Vale do Ribeira, os custos de transporte são muito altos e não conseguimos chegar a uma solução”, conta Antônio Carlos, líder dos quilombolas. “Estamos batalhando formas de conseguir o transporte gratuitamente para poder levar adiante essa parceria. Para nós, seria uma oportunidade única de integração”, torce.

O Cursinho sabe que não pode resolver o problema de exclusão.
“Nosso papel é o de propor políticas públicas para mostrar que dá para incluir muita gente mesmo sem grandes recursos”, orgulha-se Renato Rodrigues. Isso não quer dizer que o pessoal esteja satisfeito. Dentro das limitações de espaço e recursos, já está em discussão a viabilização de novas parcerias com outras entidades e associações. “A partir dessas iniciativas, o poder público pode tirar exemplos que deram certo e generalizar a ação”, completa. Vem mais novidade por aí.


CENTRAL DE ATENDIMENTO: (11) 2145-7654 Unidades Cursinho da Poli: Zona Leste Lapa Santo Amaro