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Como o senhor avalia o ambiente
urbano da cidade de São
Paulo?
Moro em São Paulo porque
gosto da cidade, mas acho
que ela está bastante
maltratada. Tivemos um crescimento
aleatório, uma expansão
não controlada e continuamos
sem planejamento. O resultado
é uma cidade feia,
suja, com problemas enormes
de locomoção
e um ambiente desagradável.
E temos todas as condições,
inclusive recursos financeiros,
para ter um planejamento,
o que nos permitiria fazer
muito mais do que fazemos
hoje. Um exemplo é
o transporte público.
Todas as grandes cidades do
mundo têm serviço
de transporte mais organizado
e não estou me referindo
ao Primeiro Mundo. Na Cidade
do México, a construção
do metrô começou
depois de São Paulo
e hoje existem cinco vezes
mais linhas construídas
do que aqui.
A água será
um bem raro dentro de alguns
anos e São Paulo não
fez muita coisa por seus rios
e córregos. Como o
senhor avalia essa situação?
Sou membro de uma Ong chamada
Água e Cidade, um grupo
de pessoas preocupadas com
o uso racional da água,
especialmente em ambientes
urbanos. Acredito que precisamos
premiar quem faz esse uso
correto e punir quem o faz
de
maneira inapropriada. Temos
dois verdadeiros rios-esgoto
a céu aberto. O rio
Tietê está passando
por um processo grande de
despoluição,
mas ainda é um processo
muito tímido. São
necessárias décadas
de trabalho e a ação
tem de ser muito intensa para
podermos garantir, pelo menos
aos nossos filhos, uma cidade
mais decente. No mundo todo,
as cidades
se voltam para seus rios.
Volto a dar exemplo de cidades
situadas em países
do Terceiro Mundo. Em Córdoba,
na Argentina, há um
riozinho em torno do qual
gira todaa vida social. Há
30 ou 40 anos, ele era poluído
e conseguiram recuperá-
lo. Nós damos as costas
para nossos rios, temos vergonha
deles.
Uma grande parcela da população
é excluída dos
aparelhos e de todos os serviços
e bens públicos oferecidos.
Como incluí-los?
A exclusão é
o maior problema. Mas sou
uma pessoa otimista. O município
de São Paulo já
está parando de ter
aquele crescimento tão
desordenado, o que nos dá
tempo e condições
de resolver o que está
mal feito, ou seja, oferecer
um mínimo de infra-estrutura
urbana para as zonas degradadas.
E isso não é
somente água, esgoto,
ruas asfaltadas, mas também
parques, centros esportivos,
diversão. Uma parcela
da populapopulação
vive em ambientes tão
deteriorados que, para eles,
a cidade é uma madrasta,
não uma mãe.
O que eu quero dizer é
que se você mora numa
rua limpa, organizada, com
uma praça a 500 metros
de casa, sua relação
com a cidade é uma.
Mas acho difícil imaginar
o pessoal que mora na periferia
tendo carinho por São
Paulo.
E qual a melhor forma de fazer
isso? De onde tem de começar,
do Poder Público ou
da sociedade organizada?
Acredito que o Poder Público
reflete o anseio da sociedade
organizada. Se as associações
de
bairro, de classe, as Ongs
não se mexerem, o Poder
Público não
se preocupa, não faz
muita coisa.
E como fica o jovem? O que
ele pode fazer?
Acho que o jovem vai viver
no futuro em uma cidade melhor
que a atual. Se o jovem se
conscientizar de que vive
em um ambiente comunitário,
de que a cidade não
é terra de ninguém,
mas de todos, já teremos
um avanço. Ele precisa
saber que o público
é seu e que ele é
responsável pela situação
da cidade com atitudes simples,
desde jogar um chiclete na
rua até pichar um monumento.
Como a universidade pode dar
sua contribuição
na melhoria do ambiente urbano?
Ela tem que se sentir cada
vez mais como parte da cidade.
Há 30 anos, a Cidade
Universitária estava
fora de São Paulo.
Atualmente,Atualmente, a USP
está começando
a perceber que precisa se
integrar, com propostas, colaborações,
ações conjuntas.
Mas isso tem de ser ampliado
e sistematizado. A universidade
não só produz,
também armazena conhecimentos.
E se esse conhecimento estiver
à disposição
de Ongs, do governo, da sociedade
organizada, ela tem uma contribuição
muito grande a dar, tanto
na construção
de políticas públicas,
como na melhoria do nível
de informação
da população,
permitindo ações
mais coerentes. A universidade
está começando
a acordar para o problema,
mas, como dirigente
universitário, digo
que ainda não estamos
fazendo tudo o que poderíamos
para isso. |