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Jacques Marcovitch é Professor titular da Fea-USP, ex-reitor da Universidade de São Paulo e Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo.
Autor dos livros: "A universidade (im)possível" e "Universidade viva".
A atual experiência do Cursinho da Poli, merecendo amplo reconhecimento da comunidade, poderia também servir como tema de instigante projeto na pós-graduação em Ciências Sociais.

Entre as iniciativas exemplares dos estudantes da Universidade de São Paulo (USP) neste ano 2000, destaca-se o Cursinho Pré-Universitário mantido pelo Grêmio Politécnico. Aos que apontam, equivocadamente, a área de Ciências Aplicadas como alheia ou distante de preocupações sociais, este projeto de extensão universitária, nos moldes atuais, é uma resposta vigorosa.
Acolhendo jovens de baixa renda não matriculados em lucrativos cursinhos existentes no mercado de ensino, o Grêmio Politécnico multiplica as chances para que eles ingressem, pela via do mérito, na maior universidade do país. Não pode haver uma prova mais ilustrativa da generosidade estudantil e do culto à solidariedade - que é um dos mais nobres valores acadêmicos. Se quisermos firmar um conceito para reflexão mais abrangente, podemos dizer que o dilema do Brasil de hoje, para não dizer do mundo inteiro, é harmonizar a competitividade e a justiça social. Cresce, diante disso, a urgência na implementação de atitudes solidárias e de políticas públicas.
Com os olhos neste quadro, a Universidade de São Paulo vem mobilizando a comunidade interna para refletir e propor soluções. No correr de 1999, a USP realizou cinco jornadas em que os seus professores discutiram políticas voltadas para Educação, saúde, meio ambiente, emprego e combate à violência. Tomemos um dos temas, a Educação, em sua realidade concreta no Brasil de hoje. Neste cenário, a questão do ensino tem uma face dupla.

De um lado, centra-se em variáveis materiais, abrangendo recursos disponíveis, salários dos professores, equipamentos escolares, distribuição de renda. De outro, focaliza matrizes teóricas, em que se debate, sem acordo previsível, o mais adequado modelo pedagógico.

Há consenso em relação à precariedade de verbas, embora o governo federal empreenda esforços recentes para atenuar o quadro no que diz respeito ao ensino fundamental. Mas a ação do Ministério da Educação nesse nível é apenas normativa.
Cabe aos Estados e municípios, com latitude bastante ampla, todas as responsabilidades de ordem prática. A questão do ensino fundamental, entretanto, não pode ser reduzida ao simples confronto municipalização versus estadualização. Na base de tudo está o grave problema social da má distribuição de renda. Enquanto persistirem os desníveis sociais e o quadro de miséria que afetam amplas camadas populares, o acesso à escola, mesmo gratuita, ficará prejudicado.

A ampliação do acesso ao ensino médio e a melhoria do seu desempenho são desafios dos governos estaduais, mas a União tomou a recente iniciativa de implantar o Enem - ainda questionado, mas que pode resultar pelo menos no mapeamento das deficiências. Em nosso país, na faixa etária dos 15 aos 19 anos, o número de alunos matriculados no ensino médio é de apenas 17% contra 55% do México, se quisermos fazer comparação na América Latina. Entre os países totalmente desenvolvidos, a taxa mais alta de matrículas, nessa mesma faixa etária, cabe ao Japão, com 96%.
Esta nossa deficiência tem raiz no baixíssimo número de alunos pobres que chega a concluir o ensino fundamental. No que diz respeito ao ensino superior, cumpre unicamente ao MEC fechar a equação das universidades federais, ainda objeto de clara discordância.

A autonomia das instituições, fundada no repasse de recursos que garantam sua manutenção, deve estar agregada a fatores de desempenho. Tais fatores norteariam a liberação de verbas diferenciais.
Eis, em resumo, a posição das maiores universidades no país. O problema não se esgota em mero encontro de contas, porém este ponto, mais do que qualquer outro, deve atrair as atenções dos estudiosos. Entre os fatores de credenciamento para uma instituição pública de nível superior, a extensão universitária deveria ocupar um largo espaço. E, dentro deste espaço, os alunos desempenhariam importante papel.

Mencionei o Cursinho da Poli, nos moldes em que atua neste ano 2000, como paradigma, e poderia citar outros exemplos. Exemplos que caracterizam a extensão como a face mais generosa da universidade, porque servem quase sempre aos que a ela não têm acesso formal.Recentemente, em publicação da USP, mapeamos 47 iniciativas de extensão desenvolvidas por nossos estudantes. Além da descrição de cada um dos trabalhos, há depoimentos de jovens que receberam bolsas de extensão.
Os testemunhos são verdadeiras lições de respeito aos valores humanos.
Um ex-bolsista da Esalq conta como um estágio rural no Piauí, durante a seca de 1993, fez dele verdadeiro agente crítico e aluno mais preocupado com os deveres sociais em sua profissão. Muitas das iniciativas de extensão idealizadas por alunos viabilizaram a inserção de jovens no mercado de trabalho e a formação de ONGs, além de se transformarem em dissertações de mestrado ou teses de doutorado.

A atual experiência do Cursinho da Poli, merecendo amplo reconhecimento da comunidade, poderia também servir como tema de instigante projeto na pós-graduação em Ciências Sociais.
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