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Professor de Literatura da Faculdade de Letras da USP e diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA), Alfredo Bosi, aos 66 anos, sempre mostra, no estudo da literatura, como a realidade sociopolíticocultural está presente nos mais diversos aspectos de cada obra.

Por isso, é um dos maiores analistas da sociedade brasileira. Logo após se formar em Letras, em 1960, recebeu uma bolsa de estudos que lhe permitiu passar dois anos no país de seus ascendentes, a Itália. Na volta, Bosi assumiu, por 10 anos, o curso de Língua e Literatura Italiana na USP.

No entanto, isso não o impedia de dar passos em direção à literatura brasileira, que sempre o fascinara. A dedicação à produção brasileira gerou os livros Pré-Modernismo (1966) e História Concisa da Literatura Brasileira (1970).
Em 1972, ele deixou a cadeira de Italiano e tornou- se professor de Literatura Brasileira, assunto que definitivamente o consagrou como intelectual e escritor.
A partir de 1987 ele entrou para o IEA, onde permaneceu como vicediretor por 10 anos, quando assumiu a direção. Outras obras de Bosi são O Ser e o Tempo da Poesia (1977), Dialética da Colonização (1992) e Machado de Assis: o Enigma do Olhar (1999). Nesta entrevista, Bosi fala de literatura, de educação pública e da necessidade de investir no professor como primeiro passo para melhorar a qualidade da escola.


EDUCAÇÃO FÍSICA E ARTÍSTICA E LITERATURA

Inicialmente só tenho a lamentar que se haja proposto a exclusão de disciplinas tão úteis à adolescência como são a Educação Artística e a Educação Física. Ambas trazem, quando bem ministradas, harmonia e graça à sensibilidade e ao corpo humano. Aprender a lidar com formas, cores, gestos, é um privilégio que o adulto agradecerá por toda vida a seu período escolar. Quanto à exclusão da Literatura, que vejo em certos parâmetros curriculares, considero-a uma aberração. Impedir que um aluno do curso colegial tome conhecimento direto de textos fundamentais de nossa cultura, de autores da força de Gonçalves Dias, Machado de Assis, Raul Pompéia, Cruz e Sousa, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral (para citar alguns dos maiores), é lesar fundo a educação do estudante brasileiro que entrará para a universidade como um semibárbaro, incapaz de compreender o que de mais inteligente e belo produziu a cultura letrada do seu país.

INTERDISCIPLINARIDADE

A literatura dialoga sempre com todas as ciências humanas e, a seu modo, também com as ciências da vida e da matéria. Há uma íntima relação entre a literatura e o contexto históricosocial. Como entender o romance de Lima Barreto sem a crítica à febre de estrangeirismos da nossa Primeira República? E a sua crítica ao preconceito de cor? Como entender Graciliano sem conhecer o mundo do Nordeste seco dos anos 1930-40? Na outra ponta, a literatura é uma constante lição de psicologia, e até de psicanálise, pois trabalha com desejos, imagens, percepções, memórias... A literatura da época colonial remete à antropologia, à relação branco-índio, europeuafricano. A literatura tem a ver com a ideologia política. Há romances progressistas e romances conservadores etc. As interfaces são constantes. CU

CULTURA POPULAR

A cultura popular tem sido mal conhecida pela escola. É preciso ensinar as bases do nosso folclore, o que pode ser feito tanto pelos mestres de História e Geografia Humana, quanto pelos de Português e Artes.

CULTURA DA SOLIDARIEDADE E DA DEMOCRACIA

O educador pode e deve estimular a cultura da solidariedade e da democracia. Para tanto, a escola precisa promover algum tipo de ação social que leve o aluno a conhecer de perto as condições de pobreza em que vivem milhões de nossos patrícios. A relação escola-sociedade é fundamental.

O PROFESSOR

O professor de ensino público deve ser formado em uma faculdade idônea, quer pública, quer particular. Mas o diploma não basta. Ele precisa estudar a vida toda, porque sem pesquisa, sem leitura sistemática, o professor cai na rotina, repete sempre as mesmas informações e não cria um clima de paixão pelo conhecimento que deve animar a sala-de-aula. Há bons cursos de extensão e de aperfeiçoamento do Magistério dados na USP e na PUC. O professor deveria ser estimulado a fazêlos com o apoio das Secretarias de Educação. Mas, volto a dizer, salários condignos são imprescindíveis a fim de que o mestre disponha de tempo livre para continuar estudando. Primeiro, valorizar e só depois avaliar.

LITERATURA E CINEMA

A lista seria muito ampla. Cabe ao professor buscar o que lhe parece completar a formação. Haveria centenas de sugestões a dar. Lembro, ao menos, uma, que me fascinou quando eu estava ensinando a meus alunos da USP Literatura Colonial: ver com eles o filme A Missão, uma obra extraordinária não só como documento histórico, mas também como cinema. POESIA Às vezes a gente confunde “senso comum” com ideologia dominante, que é a do mercado e da propaganda. Nem sempre a poesia está distante do cotidiano: leiam os poemas de Ferreira Gullar, por exemplo, e vocês perceberão que ele fala de coisas próximas e pessoas em carne e osso que nós poderíamos ter conhecido de perto. Leiam Manuel Bandeira, que tirou do seu cotidiano mais simples a matéria de sua poesia.

ADAPTAÇÕES NO CINEMA E NA TV

Uma adaptação feita com respeito ao original concorre para levar ao público a forma e o espírito de uma obra literária. No caso de “Os Maias”, ressuscitaram um grande escritor português falecido há um século, Eça de Queirós. Nesse caso, a televisão não substituiu a leitura, mas a estimulou.

O CIENTÍFICO E OUTROS SABERES


O saber escolar deve ser múltiplo e aberto: além de científico, deve ser artístico (literário, musical, visual), filosófico e humanístico, incluindo o estudo de nossos deveres para com o próximo e para com a natureza. Em suma: ético. PRI

PRIORIDADE

Os recursos para a educação são mal distribuídos. Os Ministérios de Educação têm-se preocupado demais com as coisas, isto é, materiais didáticos e informáticos, e pouco com as pessoas, com os professores primários e secundários que recebem, em geral, salários baixos em todo o país. É preciso, em primeiro lugar, valorizar a carreira docente.

CENTRAL DE ATENDIMENTO: (11) 2145-7654 Unidades Cursinho da Poli: Zona Leste Lapa Santo Amaro