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Aos 65 anos, o geólogo Adolpho Melfi é o atual reitor da Universidade de São Paulo (USP). Ele assumiu o cargo em 2002 prometendo ampliar o seu número de vagas e aprofundar as relações com a sociedade, propondo e realizando intervenções.
Ele aponta a formação de cidadãos como a principal meta da USP e sinaliza sobre formas de ampliar o número de vagas no ensino superior.
O senhor acredita que a Universidade está distante da sociedade?

Não concordo com essa afirmação. No caso da USP, a interação com a sociedade existe e pode ser observada em várias áreas. São mantidas uma série de unidades voltadas quase que exclusivamente para a utilização da sociedade.
Todos os museus – Paulista, Zoologia, Antropologia, MAC (Museu de Arte Contemporânea) –, a Estação Ciência, o Hospital Universitário, o Centrinho da Bauru etc. Isso sem falar nos projetos de assistência, como o Avizinhar. Talvez esta crítica esteja ligada mais à relação entre universidade e empresas. Há alguns anos realmente havia pouca interação entre a pesquisa e sua utilização no setor privado. Hoje, isso está se difundindo, especialmente com a atuação das incubadoras de empresas.


Por que a universidade pública não forma os professores da escola pública?

A universidade não é a única responsável por isso. Ela pode colaborar, mas qualquer ação só funcionaria de fato se estivesse dentro de um contexto bem mais amplo, em que o professor fosse valorizado, os salários e as condições de trabalho fossem melhores. Hoje temos 159 mil candidatos que vêm para prestar o concurso vestibular e sabemos que há uma seleção prévia, ou seja, alunos de escolas públicas que nem se inscrevem. Se ajudássemos a melhorar o nível das escolas, já seria uma grande contribuição.

O mundo do trabalho mudou muito, a Universidade acompanhou essa mudança?

A evolução dos conhecimentos é muito grande, de tal forma que não queremos formar só especialistas, mas pessoas com capacidade de raciocinar, aprender, continuar a estudar e ampliar sua formação, que, aliás, quanto mais ampla, mais adequada.

Qual o papel do jovem que entra na universidade?

A universidade, além de formar bons técnicos, bons especialistas, tem de formar bons cidadãos, pessoas que tenham o compromisso com a sociedade. Porque não basta ser um bom médico, mas um bom cidadão, que saiba o que ele recebeu da sociedade e possa retribuir de maneira adequada. Em alguns campos, evidentemente, isso não está consolidado, mas temos a preocupação de formar cidadãos completos que tenham esse compromisso social. O jovem precisa ter esse compromisso.

Como aumentar o número de vagas na universidade pública?

Não resta a menor dúvida de que isso cria uma tensão social muito grande, já que falta muita vaga e isso só tende a se ampliar. É um problema extremamente sério que deveria ser em primeiro lugar encarado pelo governo. A expansão do número de vagas no ensino superior pode ser realizada de várias formas, começando pelas Fatecs, que deveriam ser multiplicadas, talvez até em associação com a universidade, ocupando os espaços e horários ociosos. Além disso, deveríamos expandir também as vagas já existentes, o que vem sendo feito de uma forma lenta. Mas esse crescimento é limitado, porque as universidades não podem ser tão grandes, não teríamos condições de ter 160 mil vagas por ano na USP. Mas é preciso haver umesforço para abrir cursos muito mais relacionados a uma demanda externa, cursos que tenham verdadeiramente um impacto social – como a formação de professores para o ensino médio.

E os cursos que não se enquadram nas Fatecs?

Talvez tenhamos de mudar o sistema, não nas universidades que já existem, que já têm uma atividade muito ampla de pesquisa. Acho que o governo poderia pensar na criação de outros tipos de universidades, como os Colleges, só voltados para o ensino, como em váriaspartes do mundo. A entrada seria em função do desempenho durante o Ensino Médio. Acho que vamos ter de caminhar nesse sentido, porque não poderemos deixar de lado uma massa enorme de estudantes que querem, mas não podem entrar.

Como ampliar sem perder a qualidade de ensino?

Há exemplos nos EUA e na Europa de que é possível. É difícil no caso de uma universidade como a USP, que é cara por ter muita pesquisa e uma pós-graduação bem implantada. Seria impossível a USP abrir 160 mil vagas sem baixar o nível. Colleges e Fatecs são uma forma. Outra possibilidade ainda em estudo, envolve conciliar o ensino à distância ao ensino presencial, atendendo assim, um número muito maior de alunos.
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