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Maio / 2009


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Nas Terras do Bem-Virá

Cine-Debate - Nas Terras do Bem-Virá

Alexandre Rampazzo, diretor do documentário, e João Paulo Rodrigues, coordenador do Movimento dos Sem Terra, debateram os assuntos do filme

Indignação. Foi essa a sensação gerada pelo documentário Nas Terras do Bem-Virá, exibido no dia 31 de maio de 2009 no Espaço Unibanco. O filme do jovem diretor Alexandre Rampazzo expõe a absurda situação de trabalho escravo à qual são submetidos trabalhadores que deixam suas terras rumo às fazendas da região da Amazônia. Após a exibição do filme, o diretor participou de um debate ao lado de João Paulo Rodrigues, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), e dos professores do Cursinho da Poli Elias Feitosa de Amorim Jr. e Rui Calaresi.

Rampazzo explicou que se surpreendeu ao saber que ainda existem pessoas trabalhando em condições de escravidão no Brasil, e por isso resolveu fazer o documentário. “Eu pensei: ‘Escravidão? Quer dizer que a história da princesa é mentira?’”, referindo-se à Lei Áurea, que extinguiu a escravatura no país, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Nas Terras do Bem-Virá apresenta as condições precárias de milhares de brasileiros “expulsos pela seca e pela cerca (do latifúndio)”, como explica um dos entrevistados no filme.

Ao investigar a origem de grande parte dos problemas, Rampazzo exibe trechos da propaganda militar nos anos 1970, que prometiam, com a criação da Transamazônica, conectar os “homens sem terra do nordeste às terras sem homens da Amazônia”. “Parecia que iríamos para o paraíso”, relembrou uma das migrantes que, ao chegar ao seu destino, encontrou apenas doenças e exploração. O professor Elias enfatiza que a propaganda era mentirosa, já que a Amazônia não era uma terra sem homens – era habitada por índios –, enquanto os “homens sem terra” do nordeste, na verdade, foram expulsos de suas propriedades por grileiros que apresentavam documentação falsa.

O massacre do Eldorado dos Carajás faz parte de um dos momentos mais tensos do filme, em que se mostra o acontecimento pela visão do Movimento dos Sem Terra. Diferente do que aconteceu em toda a mídia jornalística brasileira, Alexandre Rampazzo publicou trechos da angustiante filmagem da TV Floresta que mostra uma repórter implorando aos policiais para pararem de matar as pessoas que tentavam fugir. Em conversas com sobreviventes do massacre, revela-se que o número de mortos foi bem maior do que os 19 divulgados, já que muitas pessoas foram enterradas como indigentes ou não contaram na lista oficial.

Outro momento de tensão e tristeza é a reconstituição da morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada a mando de fazendeiros. Seu projeto de uso sustentável da natureza e ocupação coletiva das terras da Amazônia ameaçava os interesses dos poderosos da região, que criaram uma espécie de “consórcio” para matá-la. Os alunos ficaram revoltados ao ouvir o depoimento de um fazendeiro: “O que uma americana vem fazer aqui? Ela achou o que estava procurando”. O advogado do assassino completa: “A culpa foi dela. A vítima colaborou para o crime”.

No debate que se seguiu à exibição do filme, João Paulo Rodrigues apresentou as ações realizadas pelo MST e as manipulações da mídia sobre a imagem do movimento. O coordenador explicou que, além de terras para produzir alimentos, o MST reivindica melhorias da educação no campo, para que os assentados possam se desenvolver e prosperar. João Paulo divertiu-se ao contar uma experiência que passou quando estudou Economia na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Seus colegas de classe, a maioria pertencente à classe média ou à elite, propuseram a compra de ações da Vale do Rio Doce – em plena época em que o MST protestava acampado nas dependências da empresa.

O professor Rui Calaresi avisou que nunca houve qualquer tipo de reforma agrária no Brasil. “Precisamos trazer o assunto de volta à pauta de discussões. O tema sumiu dos jornais”. O professor Elias aproveitou para lembrar que os primeiros invasores de terra no Brasil foram os portugueses, que exterminaram milhares de índios para tomar tudo à força. E pediu aos alunos para refletirem sobre de que forma a sociedade também é responsável pelo problema apresentado no filme: “De onde vem o alimento que comemos? Precisamos saber a origem dos produtos que consumimos”.

Quando João Paulo se declarou contrário à inclusão de moradores de acampamentos do Movimento dos Sem Terra no Programa Bolsa Família, Alexandre Rampazzo discordou e lembrou que, durante a produção de seu documentário, diversas famílias com quem ele conversou afirmaram que, se ganhassem ao menos R$ 50 para se sustentar, não deixariam suas terras para trabalhar em condições de escravidão.

Rampazzo também lembrou que a reforma agrária é apenas uma das várias mudanças pelas quais o Brasil precisa passar. “O mundo é integrado, temos que fazer uma reforma na educação, uma reforma na cultura, outra na mídia... Estamos aqui, falando e mostrando tudo isso para 150 pessoas, enquanto a (revista) Veja fala para um milhão”. O diretor do filme citou o semanário por conta de uma reportagem que deturpava informações sobre o Movimento dos Sem Terra. Ao lembrar que bancos, megaempresas e o agronegócio pagam milhões em publicidade nos veículos de comunicação, Rampazzo sugeriu a João Paulo, em tom de brincadeira, que o MST começasse a fazer publicidade na revista Veja. “Te garanto que vocês não terão mais problemas com a revista”.

Mas o diretor do filme deixou a brincadeira de lado ao responder à pergunta de uma aluna sobre o julgamento dos envolvidos no assassinato de Dorothy Stang. Tanto Raifran das Neves Sales – homem que atirou na missionária –, quanto Amair Feijoli da Cunha, conhecido como Tato e intermediário do crime, foram condenados pela Justiça; no entanto, o grupo de poderosos fazendeiros que encomendou o assassinato está impune. A conclusão de Rampazzo: “Não podemos ficar esperando que as mudanças aconteçam. Este país só vai melhorar com a ação do povo!”.


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