Palestra com Lama Michel: "Crise e Crises"
"A atual crise vai além da questão financeira", diz Lama Michel em seu retorno ao Cursinho da Poli
Um ano depois de sua última visita, Lama Michel Rinpoche voltou ao Cursinho da Poli em abril de 2009 para ministrar a palestra Crise e crises: uma reflexão sobre nossas atitudes em tempos difíceis. Como sempre, seu carisma e seu bom humor foram a força condutora de uma série de ensinamentos e reflexões, desta vez sobre a sociedade ocidental e a atual crise financeira.
Logo no início, alertou: "O que está acontecendo não é uma crise do dinheiro, é uma crise de ética, de princípios". E as escolhas e reações dos principais líderes mundiais para tentar conter os efeitos da falta de crédito no mercado financeiro foram alvo de críticas do jovem lama. "É preciso tentar entender a crise, o porquê de ela ter acontecido. Mas o que estão fazendo? Injetando mais crédito nos bancos".
Além da questão financeira, Lama Michel indica outras crises em andamento que a sociedade global precisa enfrentar: a ambiental, pois é preciso rever diversos conceitos e políticas para a proteção do meio ambiente, e a cultural, já que o racismo e os conflitos entre diferentes culturas aumentam gradualmente em todo o mundo.
Lama Michel lembrou, também, que o capitalismo transformou as pessoas em consumidores compulsivos, ao sugerir que elas podem comprar sua felicidade. "A publicidade diz ‘compre isto e seja feliz’. A pessoa compra e percebe que continua infeliz. Então compra outra coisa, em busca da eterna felicidade".
Metáforas
"Os problemas sempre vão existir", enfatiza Lama Michel. A questão é mudar a forma de encarar os que se apresentam. Como exemplo, ele lembrou que sempre ficamos chateados quando vamos ao médico e descobrimos que temos alguma doença, sendo que deveríamos ficar felizes por termos tomado consciência de um problema que precisa ser tratado.
Lama Michel procurou passar seu conhecimento por meio de diversas metáforas e analogias: quando indagado sobre como uma pessoa pode mudar as coisas ao seu redor, ele contou a história de um homem que queria mudar o mundo, mas achava-o grande demais para ser mudado; tentou, então, mudar seu país, mas também era grande; diminuiu o foco e tentou mudar sua cidade, depois seu bairro, seu condomínio e até sua família, sempre sem sucesso. Até que o sujeito percebeu que precisava mudar sua vida primeiro. Ao fazer isso, conseguiu mudar tudo ao seu redor.
O jovem lama deu muita ênfase à palavra "esforço", que na língua tibetana sempre é usada para coisas positivas. Sem esforço, nunca conseguimos nada e, alertou o lama, todas as grandes figuras da história precisaram de muito esforço para conseguir seu objetivo. Lama Michel arrancou alguns sorrisos ao classificar os quatro tipos de preguiça: "Tem a ‘Ah, eu não quero tanto assim’; também tem a ‘Eu sei, mas depois eu faço’; ou então a ‘Eu sei, mas agora preciso fazer outra coisa’; e, por fim, tem a ‘Eu queria, mas não sou capaz’".
Antes de concluir sua apresentação, Lama Michel conversou com os alunos presentes e respondeu às suas dúvidas sobre diversos assuntos – desde como é a rotina num monastério até de que forma manter-se relaxado em momentos de tensão e expectativa, como na hora do vestibular. Ao se despedir, Lama Michel agradeceu aos coordenadores do Cursinho da Poli por estar mais uma vez presente no CP.
Veja como foi a palestra de Lama Michel no Cursinho da Poli em 2008
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